Expandindo/Explodindo

Uma das maiores dúvidas que todos os empresários (que conheço) têm é sobre COMO expandir seu negócio. No início a gente só pensa em abrir uma empresa e então, se der certo, queremos crescer, ter controle sobre o futuro e saber claramente quais serão os próximos passos. É normal, e com alguma coragem a gente tenta, às vezes enriquece e às vezes quebra a cara. 

Foi assim com a BeeCake e com várias marcas que eu conheço também. No ramo de doces artesanais, algumas dúvidas são frequentes: franquear, vender as receitas, abrir outras lojas, abrir um quiosque no shopping? Essa última foi a opção que eu escolhi em 2013.


Lá estava eu plantada na lojinha da Rua Minas Gerais todo sábado à tarde, até as 17h, muitas vezes sozinha, esperando pelos clientes. A impressão que eu tinha era de que TODAS as pessoas da cidade estavam no shopping, exceto eu, e assim tomei a decisão. Se Maomé não vai até a montanha... vocês já sabem...


A fase de preparação foi uma delícia, sempre sinto saudades das reformas e aberturas de loja – acho que todo empresário é meio louco mesmo. O projeto do quiosque ficou lindo, tudo do jeitinho que eu imaginava, contratei a equipe e consegui um ótimo espaço no shopping, bem em frente ao cinema! A inauguração, em novembro, foi um sucesso, cheia de pessoas queridas sorrindo, comendo doces e bebendo champanhe, parecia cena de novela!


No dia seguinte a rotina se iniciou. Eu levava os cupcakes fresquinhos da produção pra lá todos os dias, e providenciava tudo que devia ser feito. As regras eram rígidas e claras, uma delas é de que não pode faltar produto pra vender nos quiosques, caso contrário você toma multa. E se a funcionária faltasse e o quiosque não abrisse no horário por algum motivo, você também toma multa. E se a funcionária quiser fazer xixi e deixar o quiosque sozinho, adivinha? Resumindo, de empresária eu virei funcionária do shopping e de mim mesma, em duas lojas.


A quantidade de cupcakes que vendíamos era enorme, confesso que nunca (mais) vi tanto dinheiro na minha vida. Shopping dá retorno, pelo menos no começo, eu não aguentei tanto tempo pra saber como a novela termina mas eu vou contar aqui o que aconteceu com a protagonista...


Cada dia de vendas era mais surpreendente, e dependia do filme que estreava, do clima, do período do mês, das datas comemorativas, da lua e dos astros, pois ao mesmo tempo não tinha lógica alguma. Eu ia toda-santa-noite fechar o caixa às 22h, recolher as caixas vazias e cobrir o quiosque. Eu voltava toda manhã com cupcakes frescos pra repor a vitrine. Não tendo funcionária aos domingos, eu trabalhava na produção de manhã com o Bernardo na cozinha da empresa (meu marido nessa época fazia plantão quase todo fim de semana), e depois íamos os dois levar as caixas cheias pro quiosque. Até hoje meu filho segura numa parte específica da calça jeans pra atravessar a rua comigo, onde eu o ensinei a segurar para não se afastar de mim no estacionamento do shopping enquanto eu carregava as caixas de doces com as duas mãos.


O que me alegrava era ver as pessoas transitando com a sacola personalizada da BeeCake pelos elevadores, junto com sacolas de grandes marcas, ou comendo nossos cupcakes na praça de alimentação. 

Porém a rotina de domingo a domingo, sem descanso ou feriado, foi enlouquecedora.


Shopping não é pra qualquer um, respeitem os lojistas de shopping, sério. 

Eu não suportei a pressão e não encontrei gente disposta e capaz de me ajudar na época, de talvez gerenciar o quiosque pra mim. Esse desabafo será uma surpresa pra muita gente, até mesmo para os coadjuvantes que não fazem ideia do que aconteceu comigo, mas eu surtei, e eu adoeci. 

Toda vez que eu fazia o trajeto da loja da Minas até o shopping eu tinha náuseas e, algumas vezes, parava o carro pra vomitar. Era mental, se tornou físico. Lembro que numa tarde de sábado perdi meu carro no estacionamento, era a sétima vez que eu ia até o shopping nesse dia (abrir quiosque, levar cupcake, levar sacola, cobrir funcionária, levar embalagem, buscar caixa, levar mais cupcakes, etc) e eu liguei pro meu marido me buscar. Ele perguntou aonde estava o carro e eu respondi: “Não sei, acho que roubaram!”

Voltei para o quiosque e esperei um tempo... tentei refazer meu caminho, sentia muita náusea, e um tempo depois encontrei meu carro no portão lateral, onde ficam as lixeiras. Eu mesma havia estacionado lá fora.


Digo que envelheci 2 anos em 6 meses, talvez mais. Foram 6 infinitos meses dos quais não tenho saudades. Hoje tenho uma loja de rua que abre somente à tarde, e pretendo permanecer assim, sendo dona do meu tempo, decidindo sobre meus dias de descanso e sem náuseas pelo caminho. Hoje, a expansão que eu mais desejo é a do meu tempo com meus filhos e minha família, das coisas que realmente importam.